O Mestrado Profissional em educação tem um caráter de pesquisa aplicada, com produção acadêmica voltada a questões referentes ao ensino, embasadas por pressupostos teóricos metodológicos que visem a produção de dissertações e intervenções em contextos educacionais. A despeito disso, e considerando sua implementação no final da década de 90, os MPE hoje reivindicam uma posição atuante nos contextos pedagógicos do país, em contraste ao direcionamento aplicado aos mestrados acadêmicos nas últimas décadas. Na Bahia, temos os exemplos dos MPED-UFBA e MPED-UNEB. Mas, quais são as singularidades dessa modalidade de pós-graduação stricto sensu ainda recente no país?
A tendência de crescimento da rede de MPE é percebida no atual contexto pelo número cada vez maior de estudantes que procuram esse tipo de curso, de acordo com Barreiro:
Vivemos um contexto de expansão do Sistema Nacional de Pós-graduação (SNPG). Isto ocorre, em parte, em função da pressão que a expansão universitária tem provocado nas portas dos cursos de pós-graduação em um duplo sentido: pelo maior número de alunos formados nos cursos de graduação e que desejam progredir seus estudos, como também pela necessidade de maior número de professores, mestres e doutores, para atuar junto às instituições de nível superior, que tiveram ampliado o número de vagas destinadas à composição de seu quadro docente. (BARREIRO, 2015).
De acordo com Ana Lúcia Gomes da Silva e Maria Roseli Gomes Brito de Sá, no artigo “Mestrado profissional: cenários e singularidades em intervenções na educação”, algumas pistas lançadas pelas autoras suscitam um olhar acerca das singularidades dos MPE. A primeira pista diz respeito à própria definição do que se entende por singularidade nesse contexto, ao citar André Barata: “a singularidade dispõe de uma pregnância própria com que se mostra.” Dito isto, considera-se no referido artigo os seguintes pontos de singularidade no âmbito dos MPE:
1- Convergência de suas trajetórias acadêmicas e profissionais em torno do campo da formação de professores da Educação Básica;
2- Fortalecimento das relações entre instituições educacionais das redes de ensino e da universidade;
3- Concebem a docência como prática social contextualizada envolvendo questões políticas, históricas e culturais;
4- Voltam-se para as políticas e práticas escolares, atentando para as questões locais em conexão com as demandas globais, subsidiando práticas escolares pautadas na valorização das diferenças, do múltiplo, do inovador e do anverso;
5- Prioriza o estudo da diversidade, visando fortalecer as bases teóricas dos educadores, aprimorar a atuação formativa e propiciar a inovação pedagógica e a formação continuada.
Estas ações, imbricadas com a dinâmica dos MPE, enfatizam seu caráter colaborativo e as experiências de coautoria perpassadas por metodologias de pesquisa-ação colaborativa fundamentadas em ações criativas que objetivam produções alicerçadas em novas abordagens diante dos atuais desafios da educação. Entre estas ações, destacam-se os ateliês de pesquisa, assim descritos como um espaço de formação com trocas significativas: “um espaço que nos provoca a produzir a partir da pesquisa, tendo-a como princípio educativo, cognitivo, formativo, colaborativo, de reflexão e avaliação constante sobre a prática pedagógica.” (GOMES e SÁ, 2016).
Mestrado profissional em Educação e sua interseção
com a qualificação docente na educação básica
Para darmos início ao pensamento apontado pelos autores no texto II, precisamos pensar a formação de professores e os fatores que ali se delimitam pela prática e através desta, uma vez que se percebe a necessidade como aponta Neres, Nogueira, e Brito, (2014) onde estes propõem a “pensar sobre a formação contínua dos professores envolve fatores e questões que vão além do que o senso comum e o discurso oficial propagam.” ainda os autores nos falam que:
“Um dos grandes desafios no campo da formação de professores tem sido encontrar uma forma de articulação entre a teoria e a prática, entre os conhecimentos adquiridos na formação universitária inicial e os saberes necessários para resolver os conflitos do/no cotidiano escolar.” (NERES, NOGUEIRA, e BRITO, 2014).
Justamente entre essas lacunas que se debruça o trabalho docente, uma vez que onde há ruídos, fissuras e lacunas os professores encontra campo aberto para vir ser e/ou desenvolver sua professoralidade. Onde se percebe instabilidade é onde o crescimento acontece, inclusive e especialmente com o ser professor. Como dito antes, esse trabalho de percepção de singularidade se dá através da práxis, já que ao falar dessa identidade docente estamos falando de mutabilidade que se desenvolve em campo de atuação dia após dia. Portanto, as metodologias imbricadas nos MPE devem suscitar abordagens pedagógicas que promovam amplo espectro de exploração da formação docente em profunda consonância com suas trajetórias individuais, buscando aliar teoria e prática de forma interventiva. Para isso, é fundamental pensar no currículo destes cursos e estruturá-los para atingir este objetivo. De acordo com Vercelli, a expectativa em torno dos MP em educação:
é que eles fomentam uma reflexão crítica vinculada às teorias estudadas no decorrer do mestrado e as práticas pedagógicas que se estabelecem nas instituições de educação básica a fim de que os/as mestrandos/as possam vislumbrar uma melhoria das ações educativas colocadas no dia a dia profissional. Para tal, entende-se que as disciplinas obrigatórias e eletivas que os/as discentes cursam devam estabelecer uma relação com suas vivências para que a aprendizagem faça sentido e que a transformação ocorra. (VERCELLI, 2018).
Mestrados Acadêmicos e Mestrados Profissionais em Educação: identidades e diferenças
Apesar da forte expansão dos mestrados profissionais em educação, não há uma identidade formada acerca de seu modo de existir no interior do Sistema Nacional de Pós-graduação. Esta identidade está sendo construída pelos pesquisadores de diferentes áreas que vêm buscando se indagar sobre as identidades e diferenças existentes entre os programas acadêmicos e profissionais. (BARREIRO, 2015).
O lugar da pesquisa no Mestrado Profissional em Educação
É evidente, nos estudos citados, que o ponto de origem para a pesquisa foi a prática profissional de seus autores e as inquietações que essa prática suscitou para servir às necessidades identificadas nos contextos investigados ou à identificação das potencialidades de modos de ação já instalados. O olhar para os problemas da prática, que clamam por alternativas de superação, e a elaboração de propostas interventivas parecem indicar a conquista dos objetivos do Mestrado Profissional em Educação: formação de formadores. (ANDRÉ e PRINCEPE, 2017).
A relação orientador/orientando nos mestrados profissionais
O termo orientação, definido pela Academia Nacional de Ciências, é o relacionamento dinâmico e recíproco profissional e também pessoal entre o docente e o aluno,” binômio fundamental para o crescimento e expansão dos programas de pós-graduação no país. A PG, sustentam os autores, concentra a maior parte da produção científica em território nacional, além da capacitação e alta qualificação que demandam as atividades de orientação.
É preciso, de acordo com os autores, que haja equilíbrio entre a atividade do orientador e do orientando, cabendo também uma proporcionalidade razoável entre o número de orientandos para cada orientador para que possa haver a consolidação do conhecimento científico. Destaca-se certas qualidades concernentes aos orientadores: profissionalismo, interesse, flexibilidade, paciência, comunicação, criatividade, respeito, honestidade, responsabilidade, organização, o respeito de seus pares e a integração com uma rede internacional de contatos. Já aos orientandos cabe objetividade, curiosidade, entusiasmo, ambição, respeito, autodisciplina e dedicação.
Considerações finais
Pode-se concluir que, diante do panorama apresentado sobre os programas de mestrados profissionais em educação, os mesmos propõem uma forte articulação entre a academia e as instituições educacionais, ofertando uma imbricada relação entre a formação continuada, com qualidade profissional amplamente referenciado, sendo reconhecida nacional e internacionalmente, e à docência como prática social contextualizada, subsidiada por práticas escolares múltiplas e multiplicadoras de valores plurais em diálogo com as diversidades.
Portanto, o equilíbrio entre as relações deve ser sempre pautado pela ética e pela confiança, proporcionando assim mais espaço para a atuação e formação dos pesquisadores, pois o mestrado profissional cria um campo fértil para a experimentação do professor-pesquisador, na perspectiva da pesquisa participativa. De modo que ela própria cria rizomas nos quais Pesquisadores e/ou professores, junto aos seus pares, podem desenvolver, narrar e até mesmo criar experiências de maneira a desenvolver um construto científico sólido permeado pela experimentação e colaboração, gerando mudanças fecundas em si mesmos e no lugar onde atuam.
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