Claude Monet
Na era da tecnologia da informação, com drásticas mudanças e aceleradas transformações sociais, ainda há espaço para dedicar-se ao estudo imersivo da Pintura? E porque, quando pensamos em pintura, logo surgem as mesmas referências à pintura impressionista? Porque esse movimento continua sendo um tipo de manancial para o bom aprendizado das técnicas pictóricas, sobretudo aquelas que trabalham com a tinta a óleo e tinta acrílica? Aproveitando as comemorações dos 150 anos deste icônico movimento da Arte, vamos conhecer um pouco mais alguns destes ilustres pintores e suas obras.
Este artigo é uma tentativa de afirmar que, mesmo não respondendo favoravelmente a todas as questões anteriores, ainda é possível despertar o interesse pela Pintura a partir de grandes obras do Impressionismo. Tentarei, em certa medida, pontuar os êxitos e os deslizes das obras que trago como fonte de inspiração para escrever esse texto. A ideia aqui não é esgotar uma análise de obras ou mesmo ovacionar qualquer figura ou mito de genialidade destes artistas, mas, antes, é propor um olhar que desperte o interesse do pintor iniciante ou o estudante de artes visuais em observar o ponto crítico pelo qual o Impressionismo conseguiu subverter a tradição da pintura europeia do final do século XIX.
Vamos observar o caminho percorrido pelos artistas na construção compositiva dos quadros em relação direta com a técnica impressionista de mistura, aproximação e sugestão da cor, o que nos leva a analisar também alguns aspectos ligados diretamente a natureza da cor.
Na década de 1870, em Paris, França, surgiu um novo movimento artístico que contrastava com as ideias dos artistas do Realismo das décadas anteriores. De certa forma, voltou à essência da expressão dramática dos artistas românticos da primeira metade do século e os artistas desse movimento inspiraram-se nas obras de pintores como Eugène Delacroix e J. M. W. Turner.
O tema dos artistas desse movimento era muitas vezes simples, ligados a vida cotidiana burguesa europeia, mas as pinceladas coloridas que eles usavam enfatizavam o movimento do tempo. Foi o ápice da pesquisa em torno de como percebemos as cores e as representamos numa superfície bidimensional, pesquisa iniciada com método científico no período do renascimento.
Retratar efeitos visuais em vez de detalhes não foi algo que foi recebido com apreciação no início, mas isso mudou lentamente décadas depois.
Este movimento foi referido como Impressionismo e pejorativamente nomeado em referência a uma das pinturas mais famosas deste novo estilo revolucionário chamado "Impression, Soleil Levant", que se traduz em "Impressão do Sol Nascente".
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Seus estudos e pinturas mostram de maneira persuasiva uma comunicação com a memória e a inquietação espiritual da psique do povo alemão. Seu trabalho ainda retém muito da ambiguidade consciente sobre o passado e a relação pessoal do artista com ele. Essa relação com o passado representado na pintura demonstra uma espécie de ação no presente, através de uma consciência coletiva em que o artista afirma buscar uma aproximação:
o trabalho artístico consiste em perceber, na forma mais exata possível, aquilo que me comove como exemplo para todos... sei que parece absurdo dizer que talvez o homem possa captar qualquer coisa, intuir uma força que não se refere a ele, mas talvez seja essa capacidade que distingue o artista dos outros homens. (KIEFER, 2007, p.25).
Sazai Hall no Templo dos Quinhentos Arhats" (Gohyaku Rakanji Sazaidō), da série Trinta e seis Vistas do Monte Fuji (Fugaku sanjūrokkei). Katsushika Hokusai (Japão, Tóquio (Edo) 1760–1849. 1830–32. xilogravura, tinta e cor sobre papel. https://www.metmuseum.org/
A obra de Hokusai, assim como a de muitos outros artistas japoneses, influenciou fortemente os pintores impressionistas. O caráter compositivo tem um destaque marcante nesse sentido, pois a estruturação dos enquadramentos e o aspecto planificado da arte japonesa tiveram grande repercussão na pintura impressionista. Percebemos também uma relação próxima em termos de divisão com positiva das duas obras: Monet, inspirado por Hokusai, secciona sua composição em três extensas faixas horizontais que tomam toda a imagem. A faixa do céu com as duas bandeiras, a faixa do mar com embarcações e a faixa inferior, com o jardim e seus visitantes. Estas faixas parecem estar empilhadas umas sobre as outras, o que aproxima ainda mais, em tremos de composição, esta pintura com a xilogravura do mestre japonês.
O ponto focal em Sazai Hall é o Monte Fuji, que reina soberano na composição. Já em Garden at Sainte-Adresse, o ponto focal do quadro é o casal perto da cerca, que cria conjuntamente dois pontos de fuga, pois o segundo estaria na linha do horizonte. Mas as semelhanças param por aqui. Em termos estilísticos, o icônico artista japonês enfatiza o contorno, a linha e os planos de grandes dimensões, seus personagens acentuam a dinâmica de uma composição que tende para uma totalidade ou unidade linear, ou seja. a linha possui uma força que sobrepuja o aspecto cromático. Lembramos de Hokusai pelo seu desenho.
Esta obra de Monet ainda não tem toda a potência técnica e perceptiva comparativamente às obras maduras do Impressionismo, vemos, sobretudo nos grandes planos do céu e do piso um tratamento ainda bastante acadêmico, são elementos coadjuvantes quando observamos a expressividade contumaz das folhagens e flores na composição. Monet viria a superar esse impasse nos quadros seguintes com uma compreensão mais aguçada das possibilidades pictóricas da técnica impressionista. Ainda podemos perceber nesta obra uma distinção clara, propositadamente criada pelo artista ao dar um aspecto ilusório para o céu e enfatizar o caráter do material pictórico nos planos frontais, onde vemos as figuras humanas e as folhagens.
Apesar da pincelada não ser tão solta como Impressão do Sol Nascente, que viria em 1872, aqui percebemos um Monet em busca de uma síntese diante da revolução impressionista. Outro ponto importante nessa pintura é a desconstrução da perspectiva linear: Monet estrutura seu quadro a partir de massas e volumes luminosos, percebemos uma bidimensionalidade acentuada entre os elementos compositivos, e com isso há uma aproximação entre imagem e pintura: a primeira é a representação ilusória da cena, aquilo que o olho vê, é o sujeito da pintura, a segunda é o meio, a planicidade física do suporte da tela em comunhão com a tinta. Esse é um ponto fundamental para compreender o que foi a revolução do movimento impressionista.
Édouard Manet (1832-1883) foi outra figura muito importante do movimento artístico impressionista no século XIX. Ele é considerado um dos primeiros artistas a retratar a vida moderna e seu estilo foi crucial na transição entre Realismo e Impressionismo, tornando-o um dos artistas impressionistas mais famosos da história. Ele é o criador de uma das pinturas mais influentes da história chamada "O Almoço na Relva" ("Le Déjeuner Sur l'Herbe"), cerca de uma década antes do movimento realmente tomar forma. Tornou-se a inspiração para os impressionistas na década de 1870 e definiu toda uma geração de artistas e além, finalmente transitando para a arte moderna.
The Seine art Argenteuil, 1874, Private Collection
Manet também utiliza a conhecida estrutura da espiral de Fibonacci para compor o arranjo geral de sua pintura, o ponto de interesse principal está na cabeça da mulher. Essa espiral é uma sequência matemática que aparece em muitas obras de arte impressionistas. Esta sequência é formada pela adição dos dois números anteriores para obter o próximo número na sequência, muitos artistas impressionistas a usaram em suas obras para criar uma sensação de movimento e harmonia.
Alguns pontos importantes podem ser evidenciados sobre esta composição:
Pierre-Auguste Renoir (1841 -1919) é outro artista impressionista francês inspirado por alguns dos artistas barrocos mais famosos, como Peter Paul Rubens e Jean-Antoine Watteau. Ele também criou uma das pinturas impressionistas mais icônicas da história chamada "Dance at Le Moulin de la Galette" (Bal du moulin de la Galette), que ilustra o cabeçario deste artigo, que agora está em exibição no Museu d'Orsay, em Paris. Esta pintura, que retrata uma tarde de domingo regular no distrito de Montmartre, em Paris, define o movimento artístico impressionista.
Pierre-Auguste Renoir, Uma Estrada em Louveciennes. c. 1870. Óleo sobre tela. (38,1 x 46,4 cm). Coleção Lesley e Emma Sheafer
Edgar Degas (1834-1917) é mais conhecido por seus desenhos pastéis e pinturas a óleo, mas também criou várias outras obras de arte, como esculturas de bronze, gravuras e desenhos. Embora ele agora seja referido como um dos principais artistas do movimento de arte impressionista, ele não se referiu a si mesmo como tal e preferiu ser chamado de artista realista.
Seu tema mais favorito era o de dançarinas, particularmente bailarinas, e ao contrário de quase todos os outros artistas impressionistas famosos, ele raramente pintava ao ar livre. O que também é notável é que ele tinha formação acadêmica e inicialmente queria se tornar um pintor de história. Ele eventualmente se tornou um dos maiores mestres na pintura do movimento, uma característica que definiu a arte impressionista.
O que podemos perceber de notável em seu autorretrato é o aspecto duplamente despojado de sua obra, ao mesmo tempo que observa seu rosto no espelho, compõe o quadro com a liberdade com poucos conseguiram em sua época, e além disso, sua pincelada final, com retoques mais sutis comparados com suas bailarinas, geralmente em movimento, este Degas é estático, a pincelada não é tão aparente e existe um cuidado mais preciso com os detalhes do rosto, quase um estudo neoclássico não fosse pelo aspecto "abstrato" do fundo difuso em tons grises, que se harmonizam suavemente com os tons quentes do rosto.
Alfred Sisley (1839 - 1899) foi um pintor impressionista britânico que nasceu na França e viveu e trabalhou lá a maior parte de sua vida. Ele é conhecido por sua pintura ao ar livre e tornou-se um dos mais prolíficos pintores impressionistas de sua época. Ele nasceu em Paris e muitas de suas obras mais famosas foram pintadas lá, mais notavelmente o Sena e suas pontes no que eram então os subúrbios da cidade. Ele também tem uma série semelhante em Londres e no Rio Tâmisa. Seu trabalho é definido pela tranquilidade e pelo fascinante uso de cores que se intensificaram à medida que sua carreira progredia.
Pintar ao ar livre exige um esforço extra da visão para tentar captar tons, matizes e valores os mais exatos possíveis para o suporte que está sendo utilizado. Especialmente ao pintar elementos verdes, nossos olhos têm dificuldade em perceber a imensas variedades de tons e matizes de verde de uma árvore, um arbusto ou mesmo de uma floresta. Mas olhar para extensas áreas de cor branca ao ar livre exige do olhar uma atenção ainda maior. Como diferenciar diversos tons de branco de uma rua coberta de neve? A pintura de Sisley nos convida para uma reeducação do olhar, para ver a miríade de variações de cor de uma paisagem nevada.
Rua Eugène Moussoir em Moret: Inverno, 1891. Óleo sobre tela. (46,7 x 56,5 cm)
Camille Pissarro (1830 -1903) foi uma artista autodidata franco-dinamarquês que teve uma carreira prolífica como impressionista e mais tarde pintor pós-impressionista. Viveu pobre grande parte da sua vida e severamente criticado por conta de seu estilo de pintura. Ele era uma espécie de embaixador do movimento impressionista e fundou um grupo de cerca de 15 artistas de mente semelhante no início da década de 1870, ganhando-lhe o apelido de "reitor dos pintores impressionistas".
Sua carreira marca a transição dos diversos movimentos artísticos no século XIX, começando com sua grande inspiração, o pintor realista Gustave Courbet, e mais tarde sua cooperação com artistas pós-impressionistas famosos como Georges Seurat e Paul Signac. Ele acabou se tornando uma grande inspiração para artistas como Cézanne, Gauguin e Van Gogh. Sua obra é definida por seus retratos do homem comum em ambientes naturais sem qualquer extravagância ou grandeza.
Tubos de tinta portátil e as novas ferrovias permitiram que os impressionistas trabalhassem ao ar livre e viajassem mais rapidamente para Paris e para novos locais. Isso permitiu a Pissarro investir seu interesse pictórico nas harmonias entre os elementos das paisagens que encontrava em suas viagens. Seu foco era a relação entre o céu, a terra e a composição tonal que produziam todas as formas da natureza. Embora muitos críticos coloquem Pissarro tecnicamente abaixo de Monet, penso que seu grande triunfo foi estabelecer os parâmetros técnicos e conceituais para a revolução que seria levada a efeito por Paul Cézanne.
Talvez tenha sido Pissarro o pintor que melhor compreendeu o jogo de forças perceptivas da relação das cores em sua dimensão tonal, definindo, a partir disso, um delicado ecossistema endógeno de planos e formas próprios ao quadro e não mais como uma janela para outro espaço idealizado, algo que seira posteriormente levado ao extremo por Paul Cézanne. Em Le grand noyer à l’Hermitage, a tonalidade das cores de Pissarro parecem ter um vínculo profundo, como se o artista tivesse elaborado com minuciosa atenção cada tom, contraste e saturação dos matizes para, no ato da pintura, construir uma grande sinfonia cromática, porém, sem adornos, um retrato cru de como a luz vibra na superfície das coisas concretas.
Nessa obra, o efeito visual das pinceladas nos ajuda a entender como este pintor conseguiu construir a percepção do volume dos elementos da paisagem de forma precisa e sintética. Não vemos contornos, mas massas de luz que cintilam, a paisagem, nesse sentido, talvez seja o grande modelo da natureza na qual Pissarro tenha se dedicado para modelar sua pintura.
O mais instigante dessa pintura para mim é como o artista conseguiu equilibrar perfeitamente os tons dos matizes de amarelo esverdeado com os tons de roxos acinzentados, cores complementares no círculo cromático. Além disso, a baixa saturação destes tons permite-nos associar como estava o clima no momento da captura da cena. Provavelmente um céu limpo com o Sol baixo, um amanhecer de luz intensa no horizonte e levemente obscurecido no primeiro plano, talvez por conta de alguma nuvem, o que implica presumir que Pissarro tenha esboçado rapidamente esta cena e deixando-a inconclusa.
Le grand noyer à l’Hermitage, 1875- Camille Pissarro
Proporção aproximada dos matizes utilizados por Pissarro no quadro Le grand noyer à l’Hermitage. É importante considerar que se trata de uma aproximação, pois as cores reais do quadro estão traduzidas em pixels. Fonte: encycolorpedia
Concluindo
O estudo da composição e da técnica pictórica dos artistas impressionistas é de extrema importância, pois nos permite compreender a revolução que eles trouxeram para a arte. Através da análise de suas obras, podemos apreciar a maneira como eles capturaram a luz, o movimento e a atmosfera de suas cenas, bem como a forma como rejeitaram as convenções artísticas estabelecidas. Além disso, ao estudar a composição e a técnica dos impressionistas, podemos ganhar insights sobre como aplicar esses princípios em nossa própria prática artística. Em resumo, o estudo dos impressionistas nos ajuda a apreciar a arte de uma maneira mais profunda e a expandir nosso próprio repertório artístico.
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