EDUCAÇÃO

Processos fotográficos alternativos no ensino da arte em cursos técnicos integrados

Por André de Araújo Lima 20/12/2023

Partindo do princípio de que o ensino da Arte no contexto da escola em cursos do ensino fundamental facilita o desenvolvimento das potencialidades criativas, o presente relatório procura abordar a pesquisa de técnicas fotográficas alternativas que permitam estimular a criatividade através do interesse pessoal, da sensibilidade estética e do desenvolvimento de habilidades cognitivas, tentando ir além do uso já cotidiano da fotografia digital como recurso didático nas aulas de Artes. A técnica da cianotipia, pelo seu baixo custo de produção e também por ser de fácil aplicação, é, preliminarmente, bastante adequada para este estudo, pois além das características já citadas, com ela pode-se também perceber que o estudante poderá ter maior envolvimento com o processo de produção da imagem e também a conexão da técnica fotográfica com outras áreas do conhecimento inserida no ambiente escolar.



2. Justificativa


Optou-se por trabalhar com a fotografia e processos alternativos de produção fotográfica, pois objetivamos garantir ao aluno a apropriação do conhecimento histórico e socialmente produzido e sistematizado, entendendo o ensino-aprendizagem como uma relação entre o sujeito (aluno) e o conhecimento (objeto), mediado por outros sujeitos (professor, escola, colegas), princípio da concepção sociointeracionista de desenvolvimento e aprendizagem. 

Ensinar sobre fotografia, amparando o aprendizado aos preceitos da BNCC, especialmente quanto às habilidades e competências ligadas à área de linguagens, oportunizando a produção e fruição estética de imagens visuais pode ser um modo eficaz para que o aluno possa conhecer este determinado contexto artístico e cultural. Buscou-se explorar três das habilidades preconizadas pelo texto da BNCC no que tange o ensino da arte para os anos finais do ensino fundamental, citamos estas na lista a seguir. 



(EF69AR05) Experimentar e analisar diferentes formas de expressão artística (desenho, pintura, colagem, quadrinhos, dobradura, escultura, modelagem, instalação, vídeo, fotografia, performance etc.);

(EF69AR06) Desenvolver processos de criação em artes visuais, com base em temas ou interesses artísticos, de modo individual, coletivo e colaborativo, fazendo uso de materiais, instrumentos e recursos convencionais, alternativos e digitais;

(EF69AR07) Dialogar com princípios conceituais, proposições temáticas, repertórios imagéticos e processos de criação nas suas produções visuais.



3. Fundamentação Teórica 


Técnica fotográfica desenvolvida pela botânica e fotógrafa Anna Atkins e o astrônomo John Herschel por volta de 1842, a cianotipia é um processo de impressão fotográfica que produz tonalidades de azul muito variada e que, diferentemente dos processos com a prata, oferece um resultado instantâneo, ou seja, sem a necessidade de ampliação e revelação. Nesse aspecto, a escolha da cianotipia como técnica de impressão tornou-se um desafio, pois deveria envolver a criação de um método didático que oferecesse ao estudante a possibilidade de entender a fotografia como um processo onde estariam evidentes conceitos sobre Ciências e, além disso, entender a fotografia como processo artesanal, muito diferente da ideia de fotografia digital, hoje em dia tão habitual.


A técnica da cianotipia, pelo seu baixo custo de produção e também por ser de fácil aplicação, é, preliminarmente, bastante adequada para esta prática pedagógica, pois além das características já citadas, com ela pode-se também perceber que o estudante poderá ter maior envolvimento com o processo de produção da imagem e também a conexão da técnica fotográfica com outras áreas do conhecimento inserida no ambiente escolar.

Levando em conta a interdisciplinaridade, pretende-se discutir e apresentar a fundamentação teórica para propor métodos fotográficos alternativos no ensino da arte na escola em anos finais do ensino fundamental, examinar a perspectiva desse aprendizado de um ponto de vista teórico. Uma questão fundamental a ser levantada é o porquê da escolha de processos fotográficos alternativos: qual seria a relevância didática em se privilegiar técnicas alternativas como a cianotipia quando os estudantes já estão habituados ao uso da fotografia digital?



Merece destaque a obra Sintaxe da linguagem Visual, de Donis A. Dondis (1991), um clássico sobre percepção visual em que a autora traça um panorama crítico sobre o uso da imagem a partir do século XX e como sua utilização massiva pode provocar um colapso na interpretação da realidade e seus possíveis desdobramentos para a educação. Espera-se que estas estratégias possibilitem, através do ensino da Arte, uma melhor aplicação dos conhecimentos acerca das artes visuais na perspectiva de integrar teoria e prática de forma interdisciplinar, identificando, quando possível, quais caminhos apontados pela neurociência poderiam auxiliar as propostas pedagógicas utilizando processos fotográficos alternativos como forma de intermediar ensino e aprendizagem.

Na história da humanidade o registro de imagens nos remete ao período pré-histórico em que nossos ancestrais desenhavam em paredes de cavernas escuras animais que seriam futuramente caçados, o desenho era uma forma de “aprisionar” o espírito daqueles animais. Já na antiguidade, grandes civilizações como gregos e egípcios retratavam deuses e histórias mitológicas através de pinturas murais em palácios e templos religiosos. 

A idade média, fortemente influenciada pelo cristianismo, produziu imagens de grande beleza e uma rigorosa negação das representações que ovacionaram o corpo, este um símbolo do pecado. Já na renascença ocorre a emancipação da pintura e uma grande produção de estilos e temáticas, uma exploração técnica sem precedentes onde a imagem ganha um status de espelho da realidade com as formulações matemáticas da perspectiva clássica de Filippo Brunelleschi. 



Finalmente no século XIX surgem os primeiros registros fotográficos permanentes, o primeiro deles é atribuído a Joseph Nicéphore Niépce, desenvolvendo técnicas permanentes a partir de suas heliografias iniciadas ainda em 1793. Em 1816 ele consegue obter uma imagem, provavelmente utilizando nitrato de prata, porém ainda não tinha conseguido uma imagem fixada. Em 1822 ele substituiu o nitrato por asfalto para sensibilizar um papel transparente e assim conseguiu registrar o que se considera a primeira imagem fotográfica permanente. Bem perto de uma das maiores invenções de todos os tempos, a fotografia com sais de prata, surgia pouco tempo depois, processos alternativos como a cianotipia, platinotipia, papel salgado, ferrotipia, papel albuminado dentre tantos outros (CAMPOS, 2007, p.56).  

Conforme o autor supracitado, o Brasil também teve o seu representante entre os primeiros criadores dos métodos iniciais da fotografia no século XIX. Hercules Florence, um francês que viveu meio século no país, em São Paulo. Ele desenvolveu seu próprio método de registro fotográfico chamado por ele de polygraphie em 1830. Florence obteve diversos resultados, mesmo distante das primeiras referências de que temos registro, Niépce, Daguerre e Talbot. (CAMPOS, 2007, p.41).

Nesse mesmo aspecto, o autor supracitado ainda afirma que a fotografia não parou de avançar, no século XX surgem os primeiros sensores digitais e as primeiras câmeras em formato eletrônico, começava mais uma grande revolução no mundo das imagens: o virtual é progressivamente substituído pelo real. (CAMPOS, 2007, p.36). As imagens do nosso século ocupam um espaço considerável em nossas vidas, nos ajudam a entender as informações e seus fluxos de uma forma inédita em toda a história. O que seria de nós, no século XXI sem as imagens para nos auxiliar a compreender quem somos, quais nossas potencialidades e fobias, como poderíamos aprender a respeito das mais variadas formas de conhecimento sem o uso das imagens? 



A fotografia alternativa requer, por seu caráter artesanal, uma elaboração processual em que o inesperado seja um tanto previsível (CAMPOS, 2007, p.53). Nesse sentido, a utilização da cianotipia é uma proposta instigante, pois coloca o estudante em contato direto com o manuseio de todos os materiais necessários para a construção da imagem. A escolha da imagem para a confecção da foto deve, portanto, ter uma relevância afetiva para cada estudante. 

Outro fator interessante é a possibilidade do estudante poder estar presente durante todo o processo de produção da fotografia, etapa fundamental para o aprendizado através da arte, desde a seleção da imagem, confecção do negativo, preparação das substâncias, emulsão e exposição à luz para finalmente ver o resultado sendo revelado diante de seus olhos. (CAMPOS, 2007, p.47).  

A crescente indústria da fotografia possibilita um acesso extremamente rápido e em altíssima qualidade, percebe-se isto em praticamente todas as áreas do conhecimento, no entanto ao se tratar da fotografia no ensino da arte, pode-se dizer que os métodos alternativos têm maior aplicabilidade e possibilidades de propostas interdisciplinares? Sim, isto se houver conexões entre a práxis artística, o contexto interdisciplinar do ambiente escolar e a consciência social e política por parte de estudante e professor no sentido de uma emancipação que os façam mais independentes dos meios de produção industriais. 


No contato com o experimento fotográfico, o estudante pode não apenas conhecer a técnica, mas também estar diante do desafio da criação artística, entusiasmado pela aparição da imagem fotográfica, ele desperta a consciência de que é também um indivíduo criativo capaz de usar a fotografia além do seu uso cotidiano, na maioria das vezes não artístico. A seleção das imagens pelos estudantes torna-se nesse sentido um momento decisivo, pois é ali que se percebe parte do processo criativo de cada um deles, suas poéticas pessoais ganham corpo, matéria, visibilidade única, momento de tomada de consciência para alguns, eternização de um momento familiar para outros.

O estudante possui uma estrutura cognitiva capaz de reter e memorizar informações de modo automático através do armazenamento de informações em hierarquias conceituais se para isso, o cérebro reconhece de algum modo que falhas ocorreram no processamento das informações. O aprendizado nesta situação torna-se mecânico, sem interação entre os conceitos pré-existentes. (XIMENDES, 2010, p.89).

Utilizar a fotografia como uma ferramenta didática para tornar o aprendizado mais prazeroso e mais efetivo pode ser uma forma de diminuir esta baixa interação entre os conceitos, pois a emoção, o afeto e a memória podem auxiliar nesse processo. A escolha de uma imagem que possua algum significado intenso para o estudante poderá ser um estímulo adequado para que o cérebro entenda que aquelas informações experimentadas através dos processos fotográficos alternativos devam ser relevantes o suficiente para serem bem guardadas. 




4. Objetivo Geral


Apresentar a contextualização histórica do surgimento da fotografia e sua importância artística e produzir junto com os estudantes um conjunto de cianotipias, buscando de forma interdisciplinar integrar conhecimentos entre arte e ciência.


4. Objetivos Específicos


 a) inserir-se na rotina da escola na qual se realizará a docência;

 b) reconhecer uma realidade escolar (aspectos físicos, histórico, quadro funcional e etc;) 

c) conhecer os alunos da turma na qual se desenvolverá a docência;

d) conhecer a didática de um professor em sala de aula; 

e) traçar estratégias para a confecção e realização da prática de docência. 


5. Conhecimentos Abordados


Contexto histórico sobre a fotografia;

Processos alternativos na fotografia;  

Características da cianotipia; 

Produção técnica de cianótipos;


7. Síntese das aulas


Aula 1: Introdução à história da fotografia, Fotografia analógica: princípios, processos fotográficos alternativos, Cianotipia. 

Aula 2: Produção de cianotipias pelos estudantes.


10. Referências 


BRASIL. Ministério da Educação. A etapa do Ensino Fundamental. In: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília: MEC, [2018]. p. 57-452. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 25 nov. 2022.

CAMPOS, João C. Batista. Cianotipia Em Grande Formato: Processo Alternativo De Reprodução De Imagem Em Câmara Clara. Uma Abordagem Das Dimensões Da Linguagem, Cor E Espaço, Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. 2007.

DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

XIMENDES Ellen.  As Bases Neurocientíficas da Criatividade, O contributo da neurociência no estudo do comportamento criativo, Dissertação de Mestrado Educação Artística, Universidade De Lisboa Faculdade De Belas – ARTES LISBOA 2010.


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